As empresas brasileiras têm apenas seis meses para se adaptarem à Reforma Tributária que já começou. Entenda os riscos da inércia, os impactos por setor e o cronograma completo da transição fiscal até 2033
A Federação das Câmaras de Comércio Exterior (FCCE), vinculada à Confederação Nacional do Comércio (CNC), emitiu um alerta contundente ao setor empresarial: o tempo para se adaptar à Reforma Tributária do Consumo está se esgotando, e a inércia pode ser fatal para milhares de empresas brasileiras.
🚨 O tempo está acabando
A seis meses do início da transição oficial para o novo sistema tributário – previsto para começar em 2026 –, muitas empresas ainda alimentam a expectativa de que o projeto será adiado. Para o presidente do Comitê Especial da Reforma Tributária da FCCE, Carlos Henrique Girão, essa crença é um grave erro estratégico.
“É surpreendente o número de empresários que acreditam que haverá tempo extra. A engrenagem fiscal já está girando”, afirma Girão.
A partir de julho de 2025, a Receita Federal inicia os testes práticos da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) com cerca de 500 empresas selecionadas pelo programa Confia. Esse piloto marca o início real da implantação do novo sistema tributário, muito antes do calendário final de 2033.
🧩 Os pilares da urgência
A FCCE reforça três fatores principais que tornam o cenário inadiável:
- O IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que substituirá ICMS e ISS, já está inserido no planejamento fiscal da União, estados e municípios – com arrecadação estimada em R$ 1 trilhão ao ano.
- O Comitê Gestor do IBS já começou a se estruturar, com representantes estaduais empossados.
- As mudanças estruturais no sistema exigirão adaptação profunda, como revisão de contratos, reorganização societária e redesenho de processos operacionais e fiscais.
Segundo Girão, os maiores desafios recaem sobre empresas optantes pelo lucro presumido e pelo Simples Nacional, que nunca operaram sob o regime não cumulativo de créditos fiscais.
“O tempo médio de adaptação para uma empresa de médio porte pode variar entre 6 e 8 meses. Esperar até o segundo semestre de 2025 pode ser tarde demais”, adverte.
🔍 O que mudará na prática
- Extinção do ICMS, ISS, PIS e Cofins: substituídos por dois tributos do tipo IVA – o IBS (estadual/municipal) e a CBS (federal).
- Recolhimento no destino: tributos passam a incidir no local do consumo, encerrando a chamada “guerra fiscal” entre estados e municípios.
- Crédito fiscal ampliado: todas as etapas da cadeia geram créditos tributários, exigindo controle rigoroso e digitalização.
- Alíquota única: um modelo mais uniforme, mas com efeitos diferentes por setor. Indústrias podem se beneficiar; setor de serviços tende a enfrentar maior carga tributária.
📊 Impactos estratégicos para as empresas
Com o fim dos incentivos regionais e a unificação da carga tributária, muitas empresas precisarão reavaliar sua localização geográfica, cadeias logísticas e estruturas de negócio.
Segundo Thiago Leda, diretor tributário do Grupo IRKO:
“Hoje, os estímulos estão atrelados a benefícios de ICMS e ISS. Com o recolhimento no destino, a localização da empresa perde relevância tributária e ganha importância operacional e logística.”
🛠️ Primeiros testes da CBS já começaram
A Receita Federal publicou a Portaria nº 446/2024, instituindo um projeto-piloto da CBS com participação de grandes empresas que servirão de referência para validar os sistemas e procedimentos da nova apuração fiscal.
Essa etapa inicial será essencial para identificar inconsistências, gargalos operacionais e simulações de impacto financeiro para os contribuintes. Os resultados devem orientar ajustes nos sistemas ERP, layouts de nota fiscal e plataformas de apuração automatizada.
📅 Cronograma da transição tributária
Etapa | Data prevista |
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Início dos testes da CBS | Julho de 2025 |
Emissão real de documentos com CBS/IBS (ambiente de produção) | Outubro de 2025 |
Obrigatoriedade da CBS e IBS | Janeiro de 2026 |
Redução gradual de incentivos fiscais | A partir de 2029 |
Extinção total de ICMS, ISS, PIS, Cofins | Até 2033 |
📌 Conclusão: o risco está na inação
A reforma já está em curso. A empresa que não agir agora, ficará para trás. A adaptação demanda investimentos em sistemas, treinamento da equipe contábil e fiscal, ajustes contratuais e planejamento estratégico de longo prazo.
A transição para o novo modelo tributário não é apenas uma questão fiscal — é uma mudança estrutural que afetará toda a cadeia operacional e competitiva das empresas brasileiras.